segunda-feira, 5 de julho de 2010

Garrafa Suja


- Ele esperava ansiosamente pelo fim de semana, era sempre assim. As coisas ficavam até insuportáveis quando chegava quarta ou quinta-feira, porque ele não parava de falar que estava ansioso, contando seus planos para o sábado e domingo a noite. Trabalhava de segunda a sexta em período integral, estudava a noite e tinha que dar conta da família em crise, problemático. Abafava a sua vida pessoal, ignorava os sentimentos e escondia as emoções, já que sua vida não lhe dava tempo para tais coisas supérfluas, e tentava superar isso tudo, ser alguém e não se deixar abalar pela desgraça em que vivia, afinal de contas, não seria possível que tudo era daquele jeito...
E não era. Após algumas tentativas ele descobriu um meio, uma forma, algo que ele usava como última opção para escapar de todo esse tormento: o fim de semana. Era só disso que ele agora precisava; a sua semana podia ser a pior de todas se tivesse vodka e cigarros no sábado a noite. Ele tinha começado a viver disso, um álibi. Não era necessariamente um vício... era algo um pouco mais complexo, uma fuga. Complicado demais para ser explicado. Às vezes misturava um pouco de sexo e a tentação carnal lhe caia como uma luva enquanto bebia e ouvia música bem alta, tão alta que acordava todo o bairro. Roupas rasgadas, marcas no corpo e garrafas pelo chão ao nascer do sol.
Vez ou outra ele se arrependia de algo que tinha feito, de alguma boca que beijou ou de algum corpo que tocou... mas aí era só beber mais uma dose e esquecer de tudo. Atitude essa que muitos desaprovavam, mas quem era quem para julgá-lo? Ninguém sabia nada da vida dele, ninguém sabia pelo quê ele passa ou passou. Ninguém. Ele não aceitava tais julgamentos e opiniões egoístas, porque ele sabia que o que ele fazia era o certo! Só assim ele conseguia esquecer quem ele era e rir de verdade. Não era um vício, era um estilo de vida. Uma fuga, algo que ele chamava de sexo, drogas e rock n' roll. E ele continuou chamando seu estilo de vida assim durante muito tempo... ou pelo menos até morrer com um copo de whisky na mão.
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O que achou disso, vovô? Escrevi especialmente para você e para o papai! Todo mundo disse que é a cara de vocês, parece até uma biografia! Espero que esteja bem e que tenha gostado do texto. Com carinho, seu neto.

4 comentários:

Luks Shinoda disse...

Beber pra eskecer as coisas, nem sempre é a saida...
Experiencia propria do meu ultimo fds...

Unknown disse...

Eu tinha dito que o texto anterior era o melhor que tinha escrito. Retiro o que eu disse. Esse tomou o posto de melhor disparado. Sua evolução tá se tornando incrivelmente rápida, estou adorando. O que mais gosto nos seus textos é o sentimentalismo, e embora esse possa até parecer clichê, isso não o torna menos real e emotivo. A narrativa dinâmica, sucinta sem exageros deixou o texto interessante e ágil, o "merchan social" deu aquele gosto de crônica de revista conceituada, mas ao mesmo tempo tem um toque de poesia contemporânea que deu um ar de conto pro seu texto. O final me surpreendeu, foi como estar andando na rua e vir um ônibus à toda velocidade numa poça de lama. Tudo isso o deixou maravilhoso, e eu duvido que você vá conseguir escrever algo tão perfeito quanto esse (salvo os errinhos de português aqui e ali, coisa boba). Fico no aguardo, tio. <3

Gustavo Freitas disse...

Vulgo puthenha du guh

n comento amis
ate comentar no meu
#fato
hsuahsuahsaushas
chantagem
neejo

Anônimo disse...

É estranho pensar que uma vida pode acabar cedo, ou tarde demais. Cedo para as milhares de outras diferentes coisas a que poderia se apegar, conduzindo-a a novos caminhos, novos objetivos, pois não existe forma de chamar algo de "sonho" nesse mundo. E tarde demais. Tarde para um último adeus, não para o mundo, mas para sí mesmo.

Seus textos continuam me impressionando. Talvez eu devesse escrever sobre o câncer por cigarros e bebidas, ou a loucura que contorna as pessoas quando existe a perda de outras. Essa seria a biografia exata da vida do meu avô. E por incrível que pareça, meu pai está seguindo este exemplo.

Quem seria eu? A "resistência"?
Acho que estou mais para coexistência.

Sim. Seu texto me abalou. Como disseram em um comentário acima: retiro o que disse sobre seu último texto. Este é o melhor.